sábado, 5 de outubro de 2013

Grand Canyon, AZ (The USA)

Aqui estou eu, tentando encontrar uma forma de resumir em um capítulo de blog a grandiosidade de algo como o Grand Canyon e tentando pensar se sequer seria possível expressar através de palavras o que se sente naquele lugar. A verdade é que, infelizmente, não conseguirei e seria pretensioso demais de minha parte achar que sim. 


Mas posso, pelo menos, tentar dar boas razões para que alguém queira ir lá para ver com seus próprios olhos e para pisar com seus próprios pés. 



Talvez isso ajude a construir uma imagem mental do que eu quero dizer: 


http://youtu.be/yOk0z6qzLwI

http://youtu.be/bEVEsIW4OXo

Na verdade, os principais motivos que me levaram a realizar o intercâmbio nesta região (e não em outra) dos Estados Unidos foram: poder estar próximo do Grand Canyon e não muito distante de Las Vegas (6 horas de carro a partir de Tusayan). 



Minha vontade de conhecer estes dois lugares em especial aumentava por saber que ali haviam sido produzidos a maioria dos clássicos filmes de faroeste sobre os quais ouvia falar desde minha infância; estaria também vivendo no velho oeste, terra das cidades fantasmas, onde os foras da lei eram procurados pelos xerifes; território com as reservas indígenas e o ambiente de inspiração dos desenhos animados do Papa Léguas e do Coiote, obviamente, com todos os cactos na paisagem.

http://youtu.be/ZwyBK0p81Wk

http://youtu.be/qWdFIXn2Mdo

http://youtu.be/k4asblEwVLM




Além disso, algumas bandas e cantores famosos dos anos 70, 80 e 90 utilizaram a região como cenário para a produção de videoclipes fantásticos como a Bonnie Tyler e o Bon Jovi, por exemplo:


http://youtu.be/BVtaVrUAPK0

http://youtu.be/MfmYCM4CS8o

O Grand Canyon National Park é considerado patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) desde 1979. Cortado pelo Rio Colorado na maioria de sua extensão, ele é uma dentre as 7 maravilhas naturais do mundo.



O parque cobre uma área de 4.926 km² (equivalente à área aproximada de Trinidad e Tobago na América Central, OU de Cabo Verde, país africano de língua portuguesa, OU equivalente a 2 vezes o tamanho de Luxemburgo na Europa, OU a 5 vezes o tamanho de Hong Kong na Ásia). Mas, por outro lado, é interessante saber que ele é apenas 3 vezes maior em território do que toda a área do município de Caxias do Sul (não podemos nos esquecer de que também vivemos em um país com proporções continentais!).



O Grand Canyon foi nomeado parque nacional em 1919 e o presidente americano Theodore Roosevelt foi um dos principais promotores da preservação desta área (por isso fiquei tão contente ao encontrar a biografia do Roosevelt esta semana na Feira do Livro aqui em Caxias do Sul).



O cânion em si, como elemento geográfico, possui 446 km de extensão, chega a até 29 km de largura em alguns trechos e pode chegar a 1800 metros de altura a partir da borda, em alguns pontos.



Cerca de 2 bilhões de anos de história geológica do planeta Terra estão expostos neste lugar, com o rio Colorado aprofundando em cerca de 1 cm por ano (o que, em termos geológicos, é um índice altíssimo!) e transportando sedimentos ao longo de seu curso, tornando possível visualizar as diferentes camadas de rocha sobrepostas nas paredes do cânion. 



Estudos revelam que, há bilhões de anos atrás, o terreno que hoje está na superfície do cânion era coberto por um oceano devido ao fato de haverem resquícios de peixes e até de cavalos-marinhos petrificados, além de ser possível de serem encontrados outros animais já extintos e pré-históricos como trilobites, à medida em que se vai descendo e depois subindo pelas trilhas, em caminhadas que possuem diferentes trajetos e distâncias chamadas de hiking. 



O primeiro europeu que avistou o Grand Canyon (pelo que constam nos registros históricos) foi o espanhol García López de Cárdenas, em 1540. Antes dos conquistadores chegarem na região, a mesma era habitada por americanos nativos oriundos de diversas nações indígenas. 


http://youtu.be/Cd01vvoU23c




http://youtu.be/Bxj6OkCYFoQ

Outro nome importante para a história do Grand Canyon foi o do Major John Wesley Powell que liderou uma expedição de exploração do cânion em 1869, descendo em grandes barcos de madeira pelo rio Colorado (barcos que podem ser vistos e estão expostos no National Geographic Visitor’s Center em Tusayan, um dos locais onde trabalhei durante o intercâmbio).



Existem diversas atividades oferecidas aos turistas que visitam o parque como passeios de jipe através da Floresta Nacional de Kaibab, conhecendo a flora e a fauna local e terminando na borda do cânion para se admirar o pôr do sol.



Além deste, se pode sobrevoar o cânion de helicóptero ou em pequenos aviões; visitar os pontos de observação nas bordas do cânion; ou descer pelas trilhas do cânion até o rio Colorado e voltar também por trilhas (pode ser feito montado em mulas mas estes passeios precisam ser agendados com muita antecedência e são mais caros!); ou descer o rio Colorado em botes, fazendo o rafting pelas corredeiras em alguns trechos.


http://youtu.be/8CbdDJflpe4




Meu trabalho no guichê de informações turísticas do NGVC (National Geographic Visitor’s Center) também era o de vender qualquer um destes serviços com atividades no parque oferecidas aos turistas. 



Fora passar pelos pontos de observação na borda sul (localizada no estado do Arizona – porque a borda norte localiza-se no estado de Utah) do cânion, a atividade mais marcante de todo este período foi ter feito o hiking por suas trilhas. 



Fiz o percurso mais longo que desce pela South Kaibab Trail, passando pela ponte suspensa (Suspension Bridge) e cruzando o rio Colorado até o Phantom Ranch:


http://youtu.be/0E6FWgp8sAE




(levou aproximadamente 5 horas, com as paradas nos pontos de descanso) e subindo de volta pela Bright Angel Trail (que durou mais umas 6 horas).




As trilhas possuem no máximo um metro e meio de largura, com toras de madeira afixadas na rocha por barras de metal, formando os degraus ou patamares da trilha. Ao longo da trilha, se encontram diversos esquilos, escorpiões amarelos do tamanho de uma mão e cascavéis. 






Foi uma das experiências mais intensas de toda a minha vida até então. Cheguei nos limites de minha resistência física (mesmo tomando todas as precauções para não sofrer desidratação ou ensolação por causa do calor que atingia os inacreditáveis 50°C no leito do rio Colorado!) mas a vista, o sentimento, o trajeto, a paz, o silêncio... tudo era demais! 



São você e a natureza, nua e crua. Literalmente, a impressão que se tem é a de estar entrando em uma outra dimensão. 






quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Flagstaff and Phoenix, AZ (The USA)



Flagstaff é uma cidade com pouco mais de 65 mil habitantes, localizada no norte do estado americano do Arizona. Era a “cidade grande” mais próxima da vila onde eu morava durante o intercâmbio em 2005:
 

Pertence ainda a Coconino County, que é o mesmo condado onde Tusayan está localizada. 

A distância entre Flagstaff e Phoenix (capital do Arizona, bem ao sul do estado) é de 145 milhas (233 km) e, tanto na ida quanto na volta, percorri este trajeto de ônibus (Greyhound) e foram as duas únicas vezes em que estive em Phoenix. 



Na viagem de retorno ao Brasil que acabei pernoitando na capital, porque pegaria o vôo internacional somente no outro dia e pude conhecer um pouco da cidade que é enorme (cerca de 1.5 milhões de habitantes; é a 6ª mais populosa dos EUA!) e é um dos lugares que atinge as temperaturas mais altas dos EUA no verão, podendo chegar a 122º Fahrenheit (50º Celsius!). Em média por 110 dias ao ano, a temperatura em Phoenix ultrapassa os 100ºF (38ºC).
 

...maybe a Greyhound could be my way...,
from the Guns N' Roses song 'One in a million'
 

Em compensação, no inverno as temperaturas podem ficar muito baixas, chegando a 16ºF (-9ºC). Isso ocorre devido à baixa taxa média de humidade relativa do ar, fazendo com que a diferença de temperatura possa ser tão extrema.


(ABRINDO UM PARÊNTESE)

O clima assemelha-se a outros lugares áridos do mundo como, por exemplo, Riyadh (capital da Arábia Saudita) e Baghdad (capital do Iraque), ambas localizadas no Oriente Médio (formado por 17 países no oeste asiático), região conhecida por ter clima desértico.



(FECHANDO O PARÊNTESE)


A histórica e famosa Rota 66 (Route 66) passa por Flagstaff e para entender porque essa estrada foi e é tão importante para os Estados Unidos, existem mais informações aqui (em inglês): 



 Alguns filmes famosos tiveram partes filmadas em Flagstaff como ‘Forrest Gump’ (de 1994, com Tom Hanks):

e ‘Little Miss Sunshine’ (de 2006, com Steve Carell):

A distância entre Tusayan e Flagstaff é de 72 milhas (116 km) e o trajeto demora cerca de 1 hora e meia de carro. Aliás, eu e meus amigos brasileiros precisamos comprar um carro (Toyota Tercel, ano 88 se não me engano...) em sociedade para podermos nos deslocar de forma mais fácil por não haverem ônibus interurbanos entre esses locais com muita frequência, somente algumas vezes por semana (que saíam de manhã e voltavam à noite). 



Nesta cidade, aproveitávamos para fazer compras pois lá haviam hipermercados (WallMart), excelentes livrarias, restaurantes e alguns pubs muito legais. Fui diversas vezes para lá, onde também está localizada a NAU (Northern Arizona University) que oferece um dos melhores cursos de geologia do mundo pelo fato de estar tão próxima do Grand Canyon, concentrando pesquisadores de diversas nacionalidades ali.



Enfim, é uma cidade que realmente vale a pena conhecer, muito agradável e estaria entre as 5 cidades do mundo onde eu escolheria viver, sem dúvida.



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Conto sobre Tusayan




"Alguém bate à porta do trailer nos últimos dias de abril daquele ano. Um dos moradores, envolvido em suas muitas expectativas e um pouco apreensivo, olha para os demais moradores como se precisasse confirmar que aquele fato parecia mesmo inesperado. O silêncio daquele momento... Decide abrir a porta.
Talvez seja esse, exatamente, o aspecto curioso sobre as portas, mencionadas metaforicamente ou não; por detrás delas haverá sempre alguma forma de revelação.
A figura revelada sob a luz externa na entrada era a de um homem, de baixa estatura, usando barba e bigode, vestido com roupas simples. Ele carregava em ambas as mãos baldes com produtos e equipamentos de limpeza. Começa a falar em língua estrangeira, cumprimentando e se identificando de forma sorridente e com aparência amigável.
Este mesmo morador que abriu a porta o cumprimenta de volta e contente, na mesma língua estrangeira, lhe convida para entrar e o apresenta aos demais moradores do trailer, que era ainda um ambiente estranho aos três amigos que ali passaram a morar.
Estes amigos haviam vindo de um lugar muito distante dali, e todo aquele novo cenário ainda lhes parecia mais um sonho do que realidade. Mas por quê teriam eles decidido abrir mão - mesmo que só por algum tempo, de suas vidas, da proximidade e do aconchego de suas famílias, amigos e de seus próprios lares?
Talvez não soubessem explicar racionalmente mas sentiam que precisavam estar ali e precisavam aproveitar aquele tempo da melhor maneira possível. Surgia um sentimento novo e todo um processo de mudança se iniciava em cada um deles.
O homem de baixa estatura identificou-se como o gerente da loja em que os amigos trabalhariam, ou seja, seria seu chefe. Trazia-lhes alguns primeiros utensílios para começarem a se organizar e a se ambientar nesta nova moradia - mesmo que não fosse exatamente uma casa, não nos mesmos padrões que as habitações tinham em seu país de origem.
Aquele seria o primeiro de muitos outros gestos de gentileza e cordialidade por parte daquele homem, até então, desconhecido. Logo, ele providenciou também uma bicicleta, que emprestou para um dos amigos se deslocarem até uma outra unidade da loja em que trabalharia por algum tempo, localizada no interior de um parque a cerca de dez quilômetros longe dali onde moravam.
O tempo foi passando, os amigos começaram a ter uma rotina de vida novamente, naquele país distante e ali permaneceram por seis meses, trabalhando e começando a descobrir como era o mundo do lado de fora de suas janelas e redescobrindo a si mesmos, o tempo todo.
Outra comida, outras formas de julgamento, outro clima, outro sistema de pesos e medidas, convivendo com pessoas de diversas outras nacionalidades, comunicando-se em idiomas distintos a tal ponto que, em alguns dias, chegavam a se esquecer completamente das palavras que haviam ouvido desde o nascimento.
Ouviram histórias, contaram as suas próprias, ficaram felizes, tristes, sozinhos... sorriram, ajudaram-se, uniram-se e viveram da forma mais intensa que podiam viver.
Todas as vezes que sentavam-se atrás daquela loja em que trabalhavam para momentos de intervalo e de descanso, olhavam para aquelas árvores na paisagem e ficavam imaginando o que poderia estar acontecendo no mundo que haviam deixado para trás.
Sentiam que mesmo ao retornarem pros seus mundos, seus olhos já não seriam mais os mesmos e levariam de volta prá casa novas percepções, novas lentes para enxergarem a vida e as mesmas pessoas que não sabiam de absolutamente nada do que eles haviam visto ou feito. Isso lhes parecia apavorante.
Mas dentre todas as experiências deste tempo, o que realmente ficaria impresso em cada um deles era esse sentimento de retribuição eterna por todos aquelas pessoas desconhecidas, em terras distantes, que lhes ajudaram quando mais precisaram, sem pedir nada em troca e em muitos momentos.
Desde o primeiro dia, ao abrir aquela porta, entenderam que seriam essas as conclusões que levariam consigo pro resto de seus dias, não importando o que quer que viesse a acontecer depois, mesmo que talvez nenhum dos fatos específicos deste período fosse importante para outras pessoas e talvez nem fizesse sentido para qualquer outro a não ser para eles mesmos.
Os destinos podem não ser os mesmos mas a escolha de viajar, descobrir o desconhecido, conhecer a si próprio, os seus limites, buscar sua própria essência... essa escolha é a forma mais pura de auto-estima, de se permitir olhar para dentro a partir do estranhamento externo. Tudo vai ficando cada vez mais claro e as respostas começam a surgir. E hoje, se reconstroem na mente as imagens dos coiotes correndo ao lado da bicicleta, do pôr do sol no horizonte do cânion dentro do parque, dos índios, dos americanos caubóis do oeste mascando fumo, dos cactos, do cheiro de terra molhada e a imagem que tenho de mim mesmo, sentado atrás daquela loja, numa rampa de madeira, do outro lado da cerca de tela com as pilhas de lenha". 

(Texto escrito em 14 de setembro de 2013,
por Jeferson Toledo Vechi)